“Deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade”

“Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Disse-lhes, então: “Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco.” Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. Foram, pois, na barca, para um lugar isolado, sem mais ninguém. Ao vê-los afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro que eles. 
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. A hora já ia muito adiantada, quando os discípulos se aproximaram e disseram: “O lugar é deserto e a hora vai adiantada. Manda-os embora, para irem para aos campos e aldeias comprar de comer.” Jesus respondeu: “Dai-lhes vós mesmo de comer.” Eles disseram-lhe: “Vamos comprar duzentos denários de pão para lhes dar de comer?” Mas ele perguntou: “Quantos pães tendes? Ide ver.” Depois de se informarem, responderam: “Cinco pães e dois peixes.” Ordenou-lhes que os fizessem sentar por grupos na erva verde. E sentaram-se, por grupos de vem e cinquenta. Jesus tomou, então, os cinco pães e os dois peixes e, erguendo os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e dava-os aos seus discípulos, para que eles os repartissem. Dividiu também os dois peixes por todos. Comeram até ficar saciados.”
Mc. 6, 30-42
  
 
Este leitura saiu-me aleatoriamente e reparei, pela primeira vez (!), nas palavras que Jesus nos dirige a nós, pessoalmente. Sublinhei, na Biblia e nas pistas, as que mais me tocaram e orei com Jesus. 
Reparo que Deus desperta o melhor que há em nós e leva-nos sempre mais longe.
Eu, pelo meu lado, acredito que é o cansaço que me afasta de Deus e de me entregar mais. Mas não é o cansaço que nos afasta, é a nossa mentalidade de não nos largarmos, de não nos re-unirmos a Jesus. 
O cansaço tira-nos de facto as forças, o controlo e a educação que nós temos sobre as nossas fraquezas. Deixa-nos carentes e dispara logo em nós os nossos mecanismos de compensação imediata. Ficamos sem forças para dar mais, e, pela nossa mentalidade, sem o Espírito Santo que nos dá o auto-conhecimento para não nos deixarmos arrastar pelos nossos medos e ansiedades. 
– Pai, que medo(s) e ansiedade(s) me andam a dominar ultimamente?
É aqui que me identifico também com o “Manda-os embora”. Aqueles problemas, trabalhos, tarefas, ambientes, circunstâncias e pessoas que teimam em chegar antes do meu merecido e, constantemente adiado, descanso!
Em oração, nós reunimo-nos a Jesus, e Ele quer que nos retiremos com Ele, quer ficar connosco e que estejamos com Ele. Quer tratar de nós. Contarmos-Lhe o que fizemos, o que vivemos, etc. 
– Peçamos ajuda ao Senhor para desfrutar disso neste momento de oração, para que Ele assim habite e alimente o nosso coração.
No entanto, Jesus convida-nos a dar um passo mais, a ir mais além. A ter compaixão. A darmos nós mesmo de comer.
Toca-me muito quando Jesus, às nossas respostas e desculpas lógicas, nos desalinha a atenção para “Ide ver”. Normalmente fico-me pela resposta do “já não consigo mais, estou arrebentado, quê? ainda mais isto…” E Jesus diz-me: vai ver que forças tens. Deixa-te perceber do que tens e do que és e não fiques preso e centrado no quanto cansado andas ou nas fragilidades que tens.
E é outra vez aqui, que sinto que Deus nos alerta e identifica o poder da nossa mentalidade “desajustada”: não nos deixamos pensar a partir de Deus. Abordamos o que somos e a nossa missão como se não estivéssemos em caminho com Ele. Tenho esta atitude porque só na minha lógica é que “partir” e “re-partir” faz as partes ficarem mais pequenas que o todo. Mas não é assim no Amor. Com cada pedaço que se reparte, o Amor cresce, fica maior e sacia mais.
– Jesus, ajuda-nos a renovar a nossa mentalidade. Diz-nos, no nosso coração, que nos queres Amar. Que nos queres “abençoar” e tornar sagrado as nossas forças por mais pequenas e limitadas que sejam. Deixa-nos “tomar” pelo contágio de Jesus, para interiorizar o olhar de misericórdia, boa disposição e uma nova mentalidade de Amor.
É que o convite de Jesus é que não nos acomodemos. “Deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade” – Rm 12, 2.

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