Mulheres em caminho

Entrevista com a escritora Marta Nin
BARCELONA, segunda-feira, 8 de Março de 2010 (ZENIT.org).
Recriar o encontro de 15 mulheres do Evangelho com Cristo foi o que fez a escritora e jornalista Marta Nin, no livro “Mujeres en camino”.
Nin, que é correspondente de vários meios de comunicação espanhóis em Roma, destaca nesta entrevista que, quando Jesus se encontra com as mulheres, trata-as com amor, e não as julga.
 
 
– Porquê relatar o encontro de 15 mulheres do Evangelho com Jesus?
– Marta Nin: Em um primeiro momento queria escrever um livro sobre Marta, porque eu também tenho este nome. Quando era jovem, o meu nome parecia-me muito banal, porque minha geração estava cheia de “Martas”. Um dia, um amigo disse-me que o Evangelho de João dizia: “Jesus amava Marta”. Isso chegou-me à alma, porque pensava que não havia nenhuma citação no Evangelho que dizia que Jesus apreciava tanto alguém ao ponto de usar o verbo amar. A partir desse momento, reconciliei-me com meu nome e aproximei-me de Marta de Betânia. É a figura de que a tradição exegética fez um estereótipo, junto com Maria: Marta a activa e Maria a contemplativa. Mas a mim parecia-me uma figura muito mais rica. Pensei então em escrever um livro que fosse sobre Jesus visto com os olhos de Marta. A inspiração inicial foi essa, mas logo me vieram outras mulheres. A partir daí saíram 15 relatos.
 
No livro, faz várias vezes referência à gratuidade com que Cristo trata as mulheres. É o ponto que fazia com que elas se colocassem “a caminho”?
– Marta Nin: Sim. Seguramente, a diferença de Jesus, a novidade do cristianismo, é a gratuidade do amor. É um amor que não discrimina. Jesus, contrariamente ao que ocorria em sua época, ama a todos, de forma igual, sejamos mulheres, prostitutas, leprosos, pecadores… Inclusive parece haver uma predileção pelos que estão mais distantes. Jesus convida-nos a esta gratuidade. Nisso Jesus se faz mestre. Precisamente o que Ele prega é o que vive, pois se entrega por todos. Isso é o que cativa: um amor assim muda a vida. E é o que acontece também com estas mulheres. Quando elas fazem a experiência desse amor, não podem seguir como antes.
 
Além da gratuidade, há alguma outra característica que se repete quando as mulheres se encontram com Jesus? 
– Marta Nin: Seu olhar para elas, o facto de não as julgar. Isso é muito difícil também, porque humanamente todos temos a tendência de julgar o outro, inclusive a condená-lo, ainda que seja só mentalmente.
Jesus não coloca etiquetas. Há que pedir-lhe que nos ajude a não julgar. Mas isso não significa não ter espírito crítico. Ainda que alguém cometa uma acção má, é preciso aproximar-se dessa pessoa, acompanhá-la e amá-la, sem esperar nada em troca. Esse amor é o que desarma.
 
Ao ler o livro, alguém pode-se sentir identificado com alguma das mulheres, ou com todas… Há alguma de quem se sinta mais próxima? 
– Marta Nin: Todas estas mulheres têm algo de mim. Mas não só estas mulheres, mas todos os personagens do Evangelho, precisamente porque é Palavra Viva. Todas são situações pelas quais passamos. Não iguais de maneira concreta, como a prostituição, ainda que haverá mulheres que passaram por isso. Quando escrevi o relato da prostituta, tentei me colocar em seu papel, sobretudo no desejo de ser amada, que é o desejo de todos. Afinal, só há um amor que preenche para sempre: o amor de Jesus.
 
Qual foi o relato mais difícil de escrever?
– Marta Nin: O de Maria, porque me custava colocar em seu papel, já que temia desfigurá-la ou equivocar-me, porque no livro tudo são recriações, mas recriar sobre Maria me exigia muito respeito. Inspirei-me em uma frase de Bento XVI que fala de que Maria é a casa da Palavra de Deus.
 
– Pelo título e conteúdo pode-se pensar que o livro tem uma intenção feminista. É assim?
– Marta Nin: Não. Queria dar um nome a essas mulheres, porque eu sou mulher e creio que a mulher no início do cristianismo tinha um papel importante, pois Jesus as resgatou da marginalização em que se encontravam em sua época, mas isso logo se foi perdendo.
Como a Palavra de Deus foi escrita por homens e transmitida em sua maioria por homens eruditos, a pessoa da mulher ficou um pouco diluída, e isso sim me interessava, mas tentei não fazer uma hermenêutica teológica, pois minha releitura é sobretudo literária e narrativa.
 
Nerea Rodríguez del Cuerpo

Os comentários estão encerrados.