“Não acreditaram naqueles que O tinham visto ressuscitado”

Senhor, a Páscoa repete-se todos os anos. Quantas mais viverei? Quem não tem vivência da Igreja pergunta que fazem os cristãos juntos todos os domingos, todas as Páscoas. Pode parecer uma repetição sem sentido. A nossa vida de cada dia, de cada semana, de cada ano, está entranhada na tua história, que é a nossa desde que ressuscitaste, como nos conta Marcos.


Leitura do Evangelho segundo S. Marcos 16, 9-15:
Jesus ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana e apareceu em primeiro lugar a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demónios. Ela foi anunciar aos que tinham andado com Ele e estavam mergulhados em tristeza e pranto. Eles, porém, ouvindo dizer que Jesus estava vivo e fora visto por ela, não acreditaram. Depois disto, manifestou-Se com aspecto diferente a dois deles que iam a caminho do campo. E eles correram a anunciar aos outros, mas também não lhes deram crédito. Mais tarde apareceu aos Onze, quando eles estavam sentados à mesa, e censurou-os pela sua incredulidade e dureza de coração, porque não acreditaram naqueles que O tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: «Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura».


Jesus, posso fazer muitas considerações sobre a falta de fé de todos estes discípulos. Viveram de perto contigo durante meses, anos. Ouviram-te falar do reino, viram milagres, viram como falavas do Pai, como falavas com o Pai. Viram-te ressuscitar Lázaro e o filho da viúva. Avisaste que irias morrer e ressuscitar. E apesar de tudo isso, que falta de clarividência, demorar tanto tempo a acreditar!
Só quando experimentaram a tua presença é que acreditaram, com mente e corpo e alma. Aí tornaste-te de novo real, sentiram-te nas suas entranhas, mais vivo que nunca.
Eu vivo desde pequeno com este desfecho. Tu nunca morreste mesmo, sempre soube que morreste e ressuscitaste logo de seguida. Por isso tudo tenho dificuldade em viver na Ressurreição. Na de há 2017 anos e na de hoje. Custa-me acreditar que posso ainda nascer de novo, que a minha vida recomeça em Deus em cada dia, que cada momento com o Pai pode ser o começo de uma eternidade. Custa-me a crer, na pele, que o amor que a minha família tem por mim é capaz de me aceitar sem máscaras, que posso entregar-me amorosamente aos outros e à vida sem medo de cair no vazio. Custa-me ainda acreditar que a minha vida já foi resgatada, que posso viver pelo e com o amor e fazer menos cálculos. Meto-me em mil trabalhos para saciar a insatisfação porque não acredito que estás vivo e que é o encontro contigo que me sacia.
Não sou tão diferente dos discípulos, isto de ser homem e viver com um Deus vivo requer hábito e muita fé!


Senhor, só o teu Espírito me leva a ver mais longe, muito mais longe do que os meus raciocínios, do que a minha lógica. Faz-me acreditar mais na tua vida, faz-me viver mais do lado de lá, do lado dos que já não são dominados pelo medo da morte.

Os comentários estão encerrados.