«Quero a misericórdia e não o sacrifício»

Bom dia, Jesus. Hoje as tuas palavras são libertadoras. Ajuda-me a entendê-las para a minha vida e para a vida daqueles com quem partilho a vida.


Hoje é sexta-feira da 15ª semana do Tempo Comum e a leitura é de São Mateus 12, 1-8:
Naquele tempo, Jesus passou por uns campos de trigo, num dia de sábado. Os seus discípulos sentiram fome e começaram a apanhar espigas para comer. Vendo isso, os fariseus disseram: «Eis que os teus discípulos estão a fazer o que não é permitido em dia de sábado!» Jesus perguntou aos fariseus: «Nunca lestes o que David e seus companheiros fizeram, quando sentiram fome? Como ele entrou na casa de Deus, e comeram os pães oferecidos a Deus? Ora, nem a David, nem aos que estavam com ele era permitido comer os pães reservados apenas aos sacerdotes. Não lestes também, na Lei, que em dia de sábado, no Templo, os sacerdotes violam o sábado, sem cometer falta? Pois Eu digo-vos: aqui está quem é maior do que o Templo. Se tivésseis compreendido o que significa: “Quero a misericórdia e não o sacrifício”, não teríeis condenado estes homens que não estão em falta. Portanto, o Filho do Homem é senhor do sábado».


Penso que nesta leitura Jesus quer-nos ajudar a entender o sentido profundo da lei e da norma. Sabemos que não podemos viver sem regras, sem direitos e sem deveres. Mas quantas leis sem sentido nenhum nós seguimos? Quantas regras não entendemos e quantas coisas nos custam a crer e ainda por cima sentimos a obrigação de as defender? Mesmo dentro da nossa amada igreja. “Quero a misericórdia e não o sacrifício” – esta é a chave para ler este problema.
No tempo dos fariseus havia mais do que uma lei para cada dia do ano e hoje parece que queremos voltar ao mesmo. Deus quer a misericórdia e não o sacrifício. Quer mais o amor e menos a norma. Como podemos dar a volta a este problema? Como não cair na anarquia, no cada um faz como quer? A regra de Sto. Agostinho parece libertadora: “Ama e faz o que quiseres”. Portanto existe uma regra e essa regra é o amor. É o critério. Outro critério é a liberdade de sermos Filhos de Deus. Deus deu-nos o poder de sermos Filhos de Deus – Filhos e herdeiros do Amor de Deus (Jo. 1 e 1ªJo. 3). Por isso já é hora de pensarmos pela nossa cabeça e de não vivermos apenas pela norma e pela imposição. O que é que quer salvaguardar a lei? O que querem salvaguardar as nossas normas? Tem de ser o amor a Deus, o amor a si mesmo e o amor aos irmãos.
Uma vez na altura da comunhão um amigo meu não foi comungar. Estava a viver um fim de semana de tensão com o seu filho adolescente. No final da comunhão eu aproximei-me e lembrei-lhe que o Papa, na “Alegria do Evangelho”, pede-nos que os sacramentos sejam vividos não como prémio para os fortes mas como auxílio para os fracos. Este deve ser outro critério para muito do nosso agir como cristãos – recorrer a Ele, que prefere “a misericórdia e não o sacrifício”.
Precisamos de uma pedagogia que nos faça entender a norma à luz do amor de Deus para podermos viver em paz na igreja, para entender o mundo de hoje, os jovens e os adolescentes, para vivermos em paz com o mundo moderno, para vivermos uma igreja em saída como nos propõe o Papa Francisco. Uma igreja que não teme sujar as mãos é uma igreja que sabe escutar e acolher todos os problemas do mundo.


Senhor, obrigado pelo Papa Francisco que tem conseguido ajudar-nos a entender o que é a Misericórdia de Deus. Ajuda-nos a fazer este caminho de saída e a não termos medo de sujar as nossas mãos com tudo aquilo que não é branco ou preto e que precisa de discernimento, de compaixão e de misericórdia.

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